quinta-feira, 30 de junho de 2011

vidas possíveis XI.



Peguei no capacete, subimos para a mota e lá fomos nós outra vez, nada dissemos durante todo o caminho, como já é hábito. Finalmente chegamos, já estava a escurecer.
P: Não dizes nada é? Estás com a consciência pesada por teres falado daquela maneira comigo de manhã? (ri-se)
R: Ah sim claro, se te falei assim foi porque mereces-te.
P: Estúpida.
R: Parvo.
Ele olha para mim com ar de desconfiado, sem saber se eu estava a brincar ou a ser sincera.
R: Vamos ficar aqui a olhar um para o outro?
P: É mau?
O silêncio instala-se por uns segundos.
R: Vamos embora ou não?
P: Ai que impaciente, vamos.
Pusemo-nos a caminho da cabana e por incrível que pareça, íamos a conversar.
R: Olha, sobre a mensagem que te mandei ontem, nem vais acreditar.
P: Ah pois é, conta-me.
Tirei a carteira e mostrei-lhe a tampa do iogurte.
P: Estás a gozar?
R: Encontrei-a no chão da paragem.
P: A de tua casa?
R: Sim.
P: Oh meu deus, essa tampa é do meu iogurte, és o amor da minha vida. (ri-se novamente)
R: Sou, só agora é que descobris-te? (num tom irónico)
P: Bem, eu já sopunha, mas ainda não tinha certezas visto que só me insultas e tratas mal.
R: Até parece, só faço aquilo que tu mereces.
P: Eu mereço tudo do bom e do melhor, por isso é que te conheci. (tosse para, ironicamente, tentar disfarçar)
R: Ahah, que piada, parvo.
P: Cala-te e sobe.
R: É desta que conheço a “mansão”?
P: Só se quiseres.
R: Ah, então nesse caso acho que vou embora.
Ele agarra-me e empurra-me lá para dentro, caímos os dois redondos no chão e desmanchamo-nos a rir.
R: Ahh, que coisa mais amorosa. Tu daqui consegues ver as estrelas. Não tens tecto?
P: Não, e no inverno chove cá dentro. Claro que tenho tecto, mas é de plástico.
R: Ah e tens um tronco aqui no meio. E um baloiço. E uma mesa. E papel de parede. E talheres, pratos e copos. E uma cama? Tu dormes aqui?
P: Isto é uma casa na árvore, querias que tivesse o quê? Postes de electricidade e cimento? E sim, durmo cá de vez em quando.
R: Tanta coisa, isto parece a tua casa.
P: Não parece, é.
R: Estou estupefacta, isto é maravilhoso. E esta porta para que é?
P: É para o rio, cuidado. Assim escuso de descer as escadas, salto logo daí.
Descemos as escadas e acabamos por nos pegar, caímos outra vez e ficamos deitados no jardim.
R: Acho que já tenho onde passar as férias do verão. (sorri)
P: Sempre que quiseres.
R: Estava a brincar, não vou abusar.
P: Tu não abusas, estás à vontade.
De repente fiquei imóvel a olhá-lo nos olhos, como se tivesse ficado presa e não conseguisse mexer-me.
P: Gostas do que vês?
R: Se o que eu estou a ver me levar para o que eu sempre imaginei, então sim, gosto.
P: E o que é que tu sempre imaginas-te?
R: Isto.
Beijei-o.

1 comentário:

  1. Aiiiiiiiiiiiiiii que coisa fofa!
    Também quero uma história destas para mim!

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