terça-feira, 31 de maio de 2011

vidas possíveis IX.


Entrei em casa e quando fechei a porta olhei por uma janela e reparei que ele ainda ali estava. Será que estava à espera que eu entrasse para ver se nada me acontecia? É que se assim foi já subiu mais um ponto na minha consideração.
Mantive-me ali a olhar para a rua, mesmo depois de ele ter ido embora. Estava com a cabeça noutro lugar e as minhas pernas não se queriam mexer. É inacreditável, eu conheci o Pedro hoje de manhã e ele já se encontra em todos os meus pensamentos, eu não posso ficar caídinha assim tão facilmente.
- Oh ursa, queres uma babete? – ouvi do cimo das escadas.
R: Cala-te Tiago, deixa de ser anormal.
T: A Renata está apaixonada, uuuh.
R: E o Tiago tem ursinhos na parede, uuuh.
T: Já te estás a esticar.
Ele é o meu irmão mais velho, é o único que tenho. É demasiado chato, e protector ao mesmo tempo, mas eu também não vivo sem ele.
T: O que é que estás aí a fazer morcona?
R: Tens alguma coisa haver com isso?
T: Fala-me baixo que ainda tens de respeitar os mais velhos.
R: Sim claro, os pais?
T: O pai está a tomar banho, a mãe está no escritório.
R: Ok, xau.
T: Já estavas a demorar muito.
Quando disse isto já estava no fundo das escadas, deu-me um cachaço e correu para a cozinha. Tem a idade que tem mas parece um puto de cinco anos, a minha mãe costuma dizer que o adoptou para não parecer tão mal (na brincadeira claro), já o meu pai adora o filho pateta que tem.
- Renata chega aqui – disse a minha querida mãe.
R: Olá mãe, porque me ligas-te?
- Era para saber se demoravas. Olha, eu estou cheia de trabalho, podes dizer à Alice para começar a fazer o jantar?
R: Claro mãe, eu vou lá, e depois vou tomar banho, até já.
Fui à cozinha fazer o que a minha mãe me pediu, subi as escadas e dirigi-me até ao meu quarto.
- Olá Renata, já não se conhece ninguém? – disse o meu pai.
R: Olá papi, nem te vi, estás bom?
- Estou filha, e tu?
R: Também, muito bem. Vou tomar banho, até já.
- Estamos muito contentes.
R: A vida tem destas coisas.
Ele abraça-me e dá-me o seu beijo na testa que eu tanto gosto. O Tiago chega e abraça-se a nós, ou melhor, esmaga-nos.
R: Tiago baza, não queremos sandes.
T: Lá pra ranhosa, fogo. Vai tomar banho mal cheirosa.
- Tiago, olha os modos como falas com a tua irmã – disse o meu querido pai.
R: Toma lá gordo, é para aprenderes.
Pegamo-nos os dois no corredor dos quartos. Andavamos sempre ás turras, mas eram discussões saudáveis, sempre fomos assim.
- Renata e Tiago chega. Vocês já não têm dez anos. Tiago, vai para o teu quarto. Renata, vai tomar banho. Estão de castigo.
Ficamos os dois a olhar para ele, desmanchamo-nos a rir e foi cada uma para seu lado.
T: Pai, já não temos dez anos.
Tomei o meu banho, troquei de roupa e desci para jantar. Reparei que eles os três falaram durante o jantar inteiro mas eu não prestei atenção a nada do que eles disseram.
Acabei de comer e subi para o meu quarto. Fui à minha mala e tirei o telemóvel, tinha uma chamada e uma mensagem, ambas de número desconhecido. A mensagem dizia: “Hoje de manhã saí de casa e trouxe um iogurte para comer pelo caminho, quando tirei a tampa reparei que lá dizia “abris-te a tampinha do meu coração”, pensei que poderia ser o coração do meu novo amor e depois conheci-te. Acreditas em coincidências? Amanhã espero-te à mesma hora, no mesmo sítio para irmos à cabana. Beijo, Pedro.”
Mal acabei de ler aquilo, larguei o telemóvel e peguei na carteira para confirmar que aquela tampa de iogurte era a mesma que eu tinha guardado. Bem, era tal e qual, será que era uma coincidência ou o destino? Era no mínimo estranho, mas nada de normal tinha acontecido neste dia, por isso já nem me esforcei para tentar perceber.
Eu respondi-lhe à mensagem: “Nem vais acreditar no que aconteceu, só visto mesmo. Amanhã falamos melhor, beijo.”
Pousei o telemóvel na secretária e batem à porta, era o meu irmão. Veio dar-me um beijo na testa que me dá todas as noites e foi para o quarto dele. Ninguém acredita mas a minha família é mesmo assim, somos muito dados ao carinho e os beijos na testa já fazem parte da nossa rotina. Peguei no computador, deitei-me na cama e estive a ver um filme até que adormeci.

- relação de irmãos.

1 comentário:

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